Wednesday, January 26, 2005

Era uma vez uma garota

E só Deus sabe como era difícil ser aquela garota. Ser maldita dava trabalho, ser putinha era tão difícil. Sua meia arrastão rasgada, sua maquiagem borrada e o seu cabelo bagunçado, tudo era estragicamente arrumado desse jeito antes dela sair de casa. A noite amava essa garota, os homens amavam essa garota, as mulheres amavam essa garota, ela era tudo que todos sempre quiseram ser. Interpretava muito bem o papel que tinha escolhido na sua vida. As cortinas se abriam e minha nossa como ela amava aquele glamour de todos os olhares sob ela. Amava conseguir ver os homens com os paus duros , e as mulheres disfarçadamente colocando a mão dentro da calcinha. Amava ser a luxúria maldita que acabava com os amores perfeitos.
Tudo acontecia do mesmo jeito toda a noite. As risadas eram as mesmas, os gozos eram os mesmos, tudo seguia perfeitamente bem, exatamente como ela planejara. Os atos passavam voando e os aplausos finais terminavam com mais uma noite cuidadosamente planejada.
Então as cortinas se fecham e ela não é mais aquela maldita, aquela putinha, aquela amada por todos. Deixa de ser a garota da meia rasgada e da maquiagem borrada, perde- do mesmo jeito que perde todas as noites- a admiração de todos, ninguém a idolatra mais. Tem que voltar para casa, não pode fugir mais dela mesma, não pode recolocar a máscara até a noite seguinte. Sai pelos fundos e reconhece o rosto e os olhares de alguns que assistiam até agora pouco. Agora a magia acabou e cada um vai voltar para a sua vida. Não é mais aquela que estava no palco, não é mais olhada do mesm jeito que era antes.
Se perde no meio de todo mundo. Sem ninguém se importar mais. O que acontece, o que ela pensa são apenas fragmentos de porra nenhuma na vida daqueles que passam pela rua. Não é mais importante, não é mais nada. Se perdeu de si mesma, até a próxima noite. Até as próximas noites, até que todos se cansem dela.

1 comment:

Miro said...

ela até que é feliz enquanto mascarada. nunca tem ninguém pra aplaudir minhas máscaras, elas são sempre babacas e desprezíveis. eu bato palmas pra garota.