Devaneios insones

É quando eu deito a minha cabeça no travesseiro e luto para conseguir dormir que os pensamentos mais lindos e perturbadores vem a tona. Em uma batalha previamente perdida, nem sei por que continuo tentando.
Levanto, acendo um cigarro, coloco um CD e sento na cama.
Sombras das luzes dos carros jogadas contra as árvores dançam em um balé compassado que me leva longe. Dias atrás, anos longe de mim, encontro-me em épocas diferentes.
O dia todo fugindo das reflexões, enchendo a minha cabeça com qualquer coisa que possa afasta-las, a noite não posso fugir, pertenço a elas. Entram na minha cabeça e abalam o meu coração até então anestesiado pela luz do sol. Bagunçam os meus pensamentos cuidadosamente arrumados e deixam os que eu havia escondido no fundo da minha cabeça bem na frente, para que eles possam me lembram a toda hora que existem.
Por vezes choro, por vezes rio. Constantes são as reviravoltas que me aguardam, escondidas sob o travesseiro. Se soubesse costurar, faria uma colcha com desenhos de cada sonho, de cada pesadelo. Estariam estampadas lindas manhãs de sol e tardes chuvosas e tristes. Alguns desenhos estariam pela metade, outros seriam apenas espaços negros. A fronha seria manchada, pelas lágrimas que sempre acabo deixando rolar pelo meu rosto antes de finalmente conseguir dormir.
O sono chega, o cigarro acaba, as músicas cessam e eu deito na cama.
Como todos os grandes fizeram antes de mim, resolvo os meus problemas e ponho fim aos meus devaneios apagando a luz e indo dormir.

N.