Sunday, May 08, 2005

Sad

O meu primeiro dia de coração partido.
É claro que eu vivo de coração partido, que eu vivo chorando e me flagelando e querendo o suicidio tanto quanto a nicotina. Mas hoje não foi por mim ou por ele, não foi por falta de amor ou por dores causadas por amor demais, hoje foi só a maior dor que eu já tive que suportar.
Tenho uma prima que tem AIDS. Pegou a muito tempo quando decidiu sair de casa, e com um filho para cuidar e sem nenhum puto no bolso teve que começar a se virar do jeito que dava. A vida foi passando, a família se distanciando e de repente ela descobre que está doente. Não é uma doença qualquer, é incurável e não importa quanto ela lute, vai ser sempre um fantasma a seguindo a cada passo.
Hoje ela morreu. As sete e meia da noite, com quarenta anos, dois filhos e muita vida pela frente.
Nunca fui muito ligada a ela, nunca conversei sobre problemas. Comparando aos dela os meus seriam sempre os de uma garotinha de classe média mimada. Mesmo assim fui pega de surpresa e de repente o meu coração se partiu em um milhão de pedacinhos.
A impotência é a pior coisa do mundo. Ver tudo se destruindo, as pessoas se matando, almas sendo arrancadas e vidas que ainda nem começaram tendo um fim forçado. Tudo acontece em frentes aos seus olhos e não existe n-a-d-a que você possa fazer. Para cada uma pessoa de boa vontade - pessoas essas que se tornam cada vez mais raras-, existem cem que só se importam com o próprio umbigo. Elas não ligam para ninguém, não se importam com a dor alheia. Quanto menor forem os sonhos mais fáceis eles serão de serem alcançados.
A dor só existe para quem sofre. Não pode falar de perda quem nunca perdeu alguém, não pode falar de desgosto quem nunca olhou nos olhos de uma pessoa amada e percebeu que ela não está mais lá. A minha dor grita, a da minha prima calava.
O peso que preciona o meu coração aumenta e diminui a cada momento. O coração dela não tinha um segundo de descanço, vivia sempre cançado, lutando em uma guerra perdida. Não dizia respeito a ela, não tinha nada que ela podia fazer. E mesmo assim ela lutou por todas as outras pessoas que lutam em suas guerras de todo dia. Por aquelas que gritam, que calam; que sangram ou apenas abaixam os olhos.
Continuam os desgraçados sofrendo, os miseráveis morrendo de fome. Continuam também os fotologs com fotos deprimidas, com modelos de uma dor que eles nunca sentiram. E nem imaginam que sorte tem de forçar uma dor e não ser forçado por ela.

Hoje foi
o meu primeiro dia de coração partido

N.

2 comments:

Anonymous said...

um minuto de silêncio.

Cel. Buceta said...

que coisa triste naty, eu estava matando tempo na net entre orkuts, flogs, blogs e acabei achando o seu... eh sempre dificil achar alguem que tenha algo importante para falar.
espero que você supere esse momento dificil!