Quem sou eu?

No fim as coisas se misturam. O passado, o presente, o futuro. Uma sopa de letrinhas, um varal de poesias velhas. Se me perguntassem eu não saberia responder se valeu ou não a pena. O meu estado mental não me permitiria ponderar, ser imparcial. Mas será que isso é necessário?

Deitada na cama, aprecio a minha estante- agora organizada. CDs e livros enfileirados, prontos para dar vida a um momento qualquer. Os livros -ahh- eles dizem muito sobre mim. Tanto quanto as coisas que eu escrevo, ambos tem o mesmo papel. Despedaço a minha alma para alimentar a alma de quem me lê e ao mesmo tempo me alimento da alma daqueles que leio. É um ciclo vital. Sem ele ficaria um vazio dentro de mim.

Os CDs dão o ritmo e me salvam do silêncio. A música preenche a necessidade de compassar os sentimentos, de afastar as palavras que não vão nunca ser ditas e ficam perpetuando no vazio, procurando uma brecha entre outros sons para se tornarem concretas. Fugir do silêncio antes era fugir de mim mesma, agora não mais. Dentro dele estão os males que não devem nunca ser soltos. O silêncio do qual eu fujo é a caixa de pandora e não a solidão que me obriga a encarar quem eu sou.

Encarar quem eu sou. Saber quem sou eu.
Sou uma mistura de tudo que gosto e que odeio, das alegrias e tristezas. Mocinhos e bandidos, vivendo sempre em conflito, impedindo-me de ser previsível, uma reta infinita sem curvas e surpresas. Concepções perfeitas, verdades paradoxais. Sou quem eu leio, o que escrevo, o que escuto.
Sou a menina esperando o elevador, saindo chorando de um bar, jogando conversa fora em um buteco.
Não sou perfeita. Não sou completa. Cobram-me perfeição e certezas, acho que nunca vou tê-las.
Se acha impossível seguir, me entender e me ajudar então é melhor ir embora. Indiferença é covardia.
Love me or leave. Bem assim, como disse a Clarah.