Conversas de botequim

Não entendo o que se passa na cabeça dessas pessoas. Desde pequena eu acho estranha toda essa parafernalha de regras para se conviver bem, dessa tal de etiqueta. Me disseram para não colocar o cotovelo na mesa enquanto comia, oquei, suponho que todos já escutaram isso algumas vezes. Eu parei para pensar- enteda-se que com cinco anos de idade os meus problemas eram basicamente esses- e não cheguei a conclusão alguma. Nojento? Não. Sujo? Não. Indelicado? Só para as pessoas que levam a sério a tal regra. Então por que alguém um dia resolveu inventar uma besteira dessas? Para encher o saco das crianças enquanto elas se esbaldam comendo sorvete? Acho que não.
Enquanto eu crescia as coisas foram piorando. Era um tal de cruze as pernas, sorria, elogie, seja simpática que eu sinceramente não sei como agüentei. E olhem só que eu não vivia no meio de madames Dior que passeiam na Oscar Freire com os seus mini cachorros que parecem mais pulgas geneticamente modificadas. Era só uma criança de maria chiquinhas e mochila da Barbie.
Hoje eu tenho outras regras a seguir. As do passado acumuluram e algumas outras foram acrescentadas. Agora eu tenho que, por exemplo, ser sincera e mentir ao mesmo tempo para agradar o ouvido alheio. E é claro que quando eu minto para agradar e a pessoa descobre, esquece da regra e fica puta comigo, que sou sempre a bruxá má que envenenou a Branca de Neve e prendeu a Rapunzel na torre.
O engraçado vem agora. Essas pessoas, essas que vivem me dizendo como agir para não ferir o orgulho ou só as boas maneiras de alguém. Elas não se importam em me ferir. Não ligam a mínima em me fazer sangrar horrores em cima do tapete persa que eu não tenho. Quando ando de cabeça baixa na rua, elas dizem que estou escondendo o meu pescoço tão bonito e não que as lágrimas escondem os meus olhos que são, modestamente falando, bem mais bonitos do que o meu pescoço.
É, eu continuo não entendendo essas pessoas.

N.