O amor era tanto que o deixei ir embora

Antes:

Precisava de palavras por todos os lados. Brotando da boca, ou da ponta do lápis. Sempre foi uma condição de existência, mas agora havia outra. Havia ela. Uma pessoa real, palpável. Cuja magnitude óbvia não superava a condição humana, como todos outros.
Respirava, dormia, fumava, vivia. Tudo em função dela. Sentia-se por vezes estúpida, culpada por noites mal dormidas e palavras a serem ditas. Pensamentos borbulhavam o dia todo em sua cabeça, mas no final era tudo esclarecido pelo ar que enchia os seus pulmões ser o mesmo que enchia os dela.

Depois:

Água quente queimado as minhas costas. Arrasto-me pela casa procurando qualquer vestígio de alguém que infestou todos os sonhos. Não sou mais terceira pessoa. Sou eu, eu mesma e mais ninguém. A solidão era para ser a sorte de todos os espíritos excepcionais , mas esse não é o meu caso. Sou humana e preciso de companhia.
Acusam-me de ter me entregue sem lutar. Mal sabem eles que a luta que travo é diária. Unhas e dentes, sangue e suor. Algo enorme, grande demais para pessoas tão pequenas. Quiçá um dia ver que sai vitoriosa. Sei que não, por isso me basta apenas o poder dizer que lutei.
Poucas pessoas se aventuram nessa batalha. Sei disso, as vejo. É mais agradável assistir a peça, atuar requer talento, mas acima de tudo coragem. A minha coragem fode. O dizer tudo que penso os faz dizer o mesmo. Nem sempre o que se passa em cabeças supostamente tão parecidas, são iguais.
Um dia tudo passará, me disseram. Sei que não. Nem o tempo faz desaparecer o que passou. O tamanho não é tão grande, por vezes não ocupa tanto quanto ocupava. Mas em algum lugar ele existe, sempre existe.

O que me restou foi esperar. O tempo cobriu de areia as páginas já escritas, agora quero escrever outras novas, dar continuidade ao ciclo, exercer o meu poder de amar.