Monday, August 08, 2005

Tão nada quanto o vento que leva-a para longe


O assoalho refletia a luz que iluminava todo o quarto, deixando-o com um aspecto triste. O telefone ainda pendia fora de gancho, retorcendo-se no ar pairavam as palavras.

Luana esperava algo mais daquilo tudo. Havia planejado cada palavra, ensaiado inúmeras vezes como contaria sobre a sua partida, e em seus devaneios contava com lágrimas, com o mesmo desespero que sentira quando soube que partiria. Aquela frieza a tomou de surpresa. Como poderia ele - o homem de sua vida – reagir com tanta indiferença sobre aquilo? Estavam se separando. Ela iria para longe e levaria consigo apenas o amor. O sentimento que havia a arrebato a faria companhia, mas Ele, ele ficaria para trás.

A voz d’ele ecoava pelo quarto. Parecia que cada objeto havia ouvido a conversa e gravado cada palavra para agora poder torturá-la com uma indiferença com a qual não havia contado. Não, nunca Luana poderia imaginar em um desfecho tão comum.

Outras histórias acabam sempre iguais. Padronizadas, ensaiadas. Sempre iguais. Mas a dela não. Eles não poderiam ser como os outros, eles nunca haviam sido assim. Ela era a mulher da vida dele. Todo o mundo sabia disso, estava escrito em cada parede, em cada folha de papel, em cada parte de seu corpo.

A sua história havia sido escrita com sangue. Pairavam ainda no ar os gritos sem força que ela havia gritado cada vez que pensava em deixá-lo para trás. Sabia, no fundo de seu coração que batia agora fraco, que nunca o abandonaria completamente. Dentro dela havia um pouco d’ele. Um pouco de seu corpo, um pouco de sua vida. Sua essência estava guardada, nunca sumiria ralo abaixo. Ela sim, havia sumido.

Sua alma havia deixado o seu corpo. Não acreditava que estava partindo sem uma palavra sentida.

Ralo abaixo, viajando pelos canos podia ver-se indo embora de sua história de amor.

[ Inventada história de amor. ]

2 comments:

**Colombina** said...

E cada vez mais meu orgulho por essa pequena cresce.

**Colombina** said...

Eu ia dizer que as grandes epopéias sempre contam com um golpe do destino, mas depois da semana que vem, talvez...