Thursday, December 08, 2005

Para ela.


Estava dentro do ônibus vendo São Paulo ficar para trás. Chorava como uma criança no colo de uma senhora velha e gorda. Nunca me senti tão mal em toda a minha vida.

Tive uma sensação enorme de que ia morrer- não era crise de pânico. O meu amor por você estava lá dentro, tentando me matar por estar fazendo isso. Eu queria me matar por estar fazendo isso. Qualquer um naquele ônibus certamente me mataria- a não ser aquele velhinho que parecia estar morto.

Estava pisando em mim, perdendo quem eu sempre fui e indo embora para sempre.

Calma, calma!!!

- ABRE ESSA PORTA! ABRE ESSA PORTA!
- A senhora não vai ter o dinheiro de volta.
- E o meu amor, eu vou?
- Vai sim, tudo sempre fica bem.

O motorista tinha a pele enrugada, os olhos sofridos e parecia estar prestes a chorar. Era um daqueles tipos que você sabe- mesmo sem trocar uma só palavra- que se fodeu a vida inteira. Se ele disse isso, eu sei que é verdade.

Fiquei parada no meio da Marginal com as malas aos meus pés. Estava acabada, parecia uma mendiga, mas sorria.

As coisas vão ficar bem. A gente vai ter o direito de viver esse amor ( falo amor porque não acho nenhuma outra palavra).
E eu juro- pelo sangue que corre em minhas veias- que nunca vou te abandonar. NUNCA.

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